Lipovetsky
fala da civilização do desejo
alimentada pelas novas orientações do capitalismo de consumo que, segundo o
autor, teria tomado o lugar das economias de produção. Em pouco tempo mudamos
nossos valores: “a vida no presente tomou o lugar das expectativas do futuro
histórico e o hedonismo, o das militâncias políticas”. A obsessão pelo conforto
ficou no lugar das paixões nacionalistas e os lazeres substituíram as
revoluções. E aí Lipovetsky diz assim: “Sustentado pela nova religião do
melhoramento contínuo das condições de vida, o maior bem-estar tornou-se uma
paixão de massa, o objetivo supremo das sociedades democráticas, um ideal
exaltado em todas as esquinas”. A coisa ainda piora, pois agora há o
hiperconsumo, tema do livro A felicidade
paradoxal o qual estou citando.
O que me
chamou a atenção foi a questão da “nova religião do melhoramento contínuo das
condições de vida”. E é isso: a sociedade de consumo de massa sobrevive
vendendo sonhos. Quer dizer, vender não vende, mas vende o que seria o caminho
e todos os instrumentos para chegar lá (na realização do sonho).
Dentro
dessa ideia estão aquelas famosas entrevistas com, principalmente, novas
celebridades onde se pede uma dica, e a nova celebridade diz: “nunca desista de
seu sonho”. O sonho está nas novelas, nas propagandas, nos BBBs e assim por
diante.
E
esse sonho é vendido também nas igrejas evangélicas (algumas). Ninguém quer
esperar para ser feliz no céu, quando encontrar Deus, como antes as religiões pregavam
(vendiam). O pessoal quer é agora. Quer apartamento quitado, carro importado e
tudo que se tem direito.
Mas,
na verdade, eu vim falar de uma propaganda da Igreja Universal do Reino de Deus
que eu escutei aqui em uma das rádios de Jaguarão. É que eu tenho um grupo de pesquisa
que trabalha com rádio e, entre tantos assuntos que estamos pesquisando, tem o
dos programas e propagandas religiosas. Tem programas e anúncios de tudo que é
religião ou coisa parecida (há de curandeiros...). Muito interessante.
A
propaganda, a que me refiro, tinha um locutor ressaltando o poder dos cultos e
o que se poderia conseguir. Chamava aquelas pessoas que estão sofrendo por
alguma coisa. Como música de fundo, tinha uma orquestração e um pianinho. Logo
reconheci a música e comecei a rir. Eu não sei se é uma auto-homenagem,
mensagem subliminar, ou uma brincadeira ou crítica de quem fez a produção da propaganda,
mas a música que estava tocando era o tema de O poderoso chefão (The Godfather).
Pra
quem não sabe, O Poderoso chefão é
provavelmente o mais famoso filme sobre a máfia. Achei interessante ter essa música
como fundo. Sabemos que a música ajuda a comunicar a mensagem.
Será
Edir Macedo o Don Corleone tupiniquim? (eu achava que esse título era do
Havelange, mas agora fiquei em dúvida). Na máfia, quem não faz parte da
“família” é inimigo e não será protegido. As máfias visam poder e dinheiro. E
conseguem isso.
Quem
escolheu a música para a propaganda da IURD eu não sei. Só sei que na hora eu
ri. Mas logo depois me deu medo.
*link para um vídeo caseiro com a música
http://www.youtube.com/watch?v=USdVxq89vJ0