terça-feira, 19 de junho de 2012

A igreja Universal e a música de fundo.


Lipovetsky fala da civilização do desejo alimentada pelas novas orientações do capitalismo de consumo que, segundo o autor, teria tomado o lugar das economias de produção. Em pouco tempo mudamos nossos valores: “a vida no presente tomou o lugar das expectativas do futuro histórico e o hedonismo, o das militâncias políticas”. A obsessão pelo conforto ficou no lugar das paixões nacionalistas e os lazeres substituíram as revoluções. E aí Lipovetsky diz assim: “Sustentado pela nova religião do melhoramento contínuo das condições de vida, o maior bem-estar tornou-se uma paixão de massa, o objetivo supremo das sociedades democráticas, um ideal exaltado em todas as esquinas”. A coisa ainda piora, pois agora há o hiperconsumo, tema do livro A felicidade paradoxal o qual estou citando.
O que me chamou a atenção foi a questão da “nova religião do melhoramento contínuo das condições de vida”. E é isso: a sociedade de consumo de massa sobrevive vendendo sonhos. Quer dizer, vender não vende, mas vende o que seria o caminho e todos os instrumentos para chegar lá (na realização do sonho).
                Dentro dessa ideia estão aquelas famosas entrevistas com, principalmente, novas celebridades onde se pede uma dica, e a nova celebridade diz: “nunca desista de seu sonho”. O sonho está nas novelas, nas propagandas, nos BBBs e assim por diante.
                E esse sonho é vendido também nas igrejas evangélicas (algumas). Ninguém quer esperar para ser feliz no céu, quando encontrar Deus, como antes as religiões pregavam (vendiam). O pessoal quer é agora. Quer apartamento quitado, carro importado e tudo que se tem direito.
                Mas, na verdade, eu vim falar de uma propaganda da Igreja Universal do Reino de Deus que eu escutei aqui em uma das rádios de Jaguarão. É que eu tenho um grupo de pesquisa que trabalha com rádio e, entre tantos assuntos que estamos pesquisando, tem o dos programas e propagandas religiosas. Tem programas e anúncios de tudo que é religião ou coisa parecida (há de curandeiros...). Muito interessante.
                A propaganda, a que me refiro, tinha um locutor ressaltando o poder dos cultos e o que se poderia conseguir. Chamava aquelas pessoas que estão sofrendo por alguma coisa. Como música de fundo, tinha uma orquestração e um pianinho. Logo reconheci a música e comecei a rir. Eu não sei se é uma auto-homenagem, mensagem subliminar, ou uma brincadeira ou crítica de quem fez a produção da propaganda, mas a música que estava tocando era o tema de O poderoso chefão (The Godfather).
                Pra quem não sabe, O Poderoso chefão é provavelmente o mais famoso filme sobre a máfia. Achei interessante ter essa música como fundo. Sabemos que a música ajuda a comunicar a mensagem.
                Será Edir Macedo o Don Corleone tupiniquim? (eu achava que esse título era do Havelange, mas agora fiquei em dúvida). Na máfia, quem não faz parte da “família” é inimigo e não será protegido. As máfias visam poder e dinheiro. E conseguem isso.
                Quem escolheu a música para a propaganda da IURD eu não sei. Só sei que na hora eu ri. Mas logo depois me deu medo.


 *link para um vídeo caseiro com a música
http://www.youtube.com/watch?v=USdVxq89vJ0

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