terça-feira, 5 de junho de 2012

Festas populares e a crise econômica


Algumas cidades na Espanha pensam em deixar de realizar festas populares para investir em postos de trabalho. Será que a população vai abrir mão das manifestações culturais em nome do emprego? E aqui? Como será que funciona?
Ontem (dia 4 de junho de 2012) assistindo a TVE (Televisión Española) vi que a cidade de Jun (província de Granada) está perguntando a seus munícipes se preferem que a prefeitura deixe de investir nas festas populares e invista esse dinheiro em postos de emprego. O problema é que a média de desemprego na Espanha está mais ou menos em 25%.
O programa mostrou algumas opiniões, gravadas nas ruas, e leu outras em mensagens do twitter. A discussão é bem interessante e já havia sido realizada em outras cidades. A questão principal é que o dinheiro a ser investido é realmente menor do que nos anos anteriores. A cidade em questão, Jun, tem um pouco mais de dois mil habitantes. Segundo o prefeito, no ano passado a prefeitura gastou 50 mil euros com a festa, 25 mil só com músicos. Esse ano, se a festa sair, o gasto com músicos não deve ultrapassar 5 mil euros (e esse seria o dinheiro investido em postos de trabalho).
Entre as opiniões dos habitantes da cidade, apresentadas ou lidas no programa, apareceu muita gente pedindo que a festa continue, mas com menos gastos. Em defesa da festa alguns disseram que ela é para a coletividade e o trabalho para uns poucos. Também ressaltaram a importância cultural (a maioria das festas populares na Espanha são aquelas em que os touros correm atrás das criaturas humanas), e ainda teve uma jovem que disse que a festa é uma das poucas coisas para se fazer na cidade. Ainda defendendo as festas, muita gente ressaltou a questão do setor de espetáculos, feirantes e as orquestras musicais, que para esses setores a festa gera emprego.
Contra as festas não há muito argumento. Alguém perguntou o que era mais importante, trabalho ou lazer? (e fez a pergunta como que afirmando que o trabalho é mais importante e ninguém teria o direito de pensar o contrário). Outra disse que trabalho era mais importante para ela, e só.
Vale ressaltar que o trabalho será oferecido pela própria prefeitura.
Bom, o prefeito até concordou que a festa gera emprego, mas ressaltou que esse emprego é para gente de fora da cidade. Trazem músicos de fora, e os feirantes também são.
Pelo que estão vendo, vai ganhar a continuidade das festas, mas com menos gastos. A população não quis abrir mão da cultura. Isso é importante.
Anos de trabalho com música e arte me mostram que as prefeituras investem mesmo em músicos de fora. Os da cidade, quando tocam, ganham pouco ou nada. O investimento em cultura é sempre negligenciado, principalmente quando, nessas festas, não há espaço para bancas de empresas e comércio. É só olhar o Ondas de Natal em Rio Grande e perceber o que aconteceu. Arte e cultura, se não derem visibilidade imediata ou não disponibilizarem um espaço para os “colaboradores”, não ganham investimento. Triste é ver como em alguns casos se perde totalmente a questão cultural da festa e se deixa apenas vitrine de negócios. Ao meu ver, é o que vem acontecendo em praticamente todas as feiras e festas de Rio Grande e região. Mas isso é conversa para um outro texto...
               

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