sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Versões para música Portos

     Explicando rapidamente. Quando nosso grande amigo Oscar Amarante (o Bubble) faleceu, quisemos fazer uma homenagem. Por isso nós,  os ex-companheiros de Azul Revés, decidimos tocar uma canção na despedida. Escolhemos a música Portos por ter uma letra que fala de partida prematura, quando o eu-lírico diz que se um dia o corpo resolver ficar, ele vai seguir.
     Na hora todo mundo cantou junto, e chorou junto logo depois. Era uma música (no disco) com uma forte influencia do baixo, logo no início. A música começava com o Oscar e ficou marcada por ele. Depois desse dia, fiquei muito tempo sem tocá-la, e quando finalmente voltei a tocar, troquei partes da letra e ritmo.
     Esse ano, gravei essa versão (mais calma, a litorânea) e logo depois fiz uma outra versão mais bruta, onde cada instrumento foi tocado uma vez só. Chamei essa versão de versão pampeana.
     Abaixo link para essas duas versões e a letra (da versão antiga).
     Essa música eu compus quando eu tinha 17 anos.

http://soundcloud.com/onomondi/portos-litoral

http://soundcloud.com/onomondi/portos-pampa



PORTOS
Guardo segredos que guardo comigo
Viajo estradas sem caminho certo
Espero chegar a um lugar conhecido
Me afastando de tudo que conheço.

Não sei se o que faço faz sentido
Mas faço por sentir ser o que sinto
Não presto atenção ao que é convencionado
Certo ou errado, sigo meu caminho.

Liberto de agonias e com a alma limpa
Desperto para a vida por todos meus passos
E ao desprezar o que realmente não faz sentido
Escolho os caminhos de olhos fechados.

Se um dia meu corpo parar em algum lugar
E sentir que deveria andar mais
Deixarei meu corpo descansar em paz
E seguirei meu caminho, como sempre fiz.


Onomondi - Cantiga de ninar nº 5

Aí está a primeira canção e o primeiro videoclipe do Onomondi. Todo o processo foi feito de forma individual (menos os atores do vídeo, claro). Nos próximos dias mais dois arquivos de áudio virão à superfície da nuvem internética. Uma prévia do álbum que está sendo preparado.
Composição (letra e música), execução dos instrumentos, gravação e edição do áudio  gravação e edição do vídeo por ONOMONDI.

Vídeo realizado para exibição no Balbúrdia do dia 28/9/2012, na UNIPAMPA Campus Jaguarão.


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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

15 anos de gravação do Caminho in verso. Dia 5



No último dia gravamos os vocais de algumas músicas. Foi um dia cansativo e tenso, pois percebemos que não poderíamos estar junto na mixagem, não teríamos tempo (na verdade acabamos as gravações no meio ou fim de tarde, mas não daria tempo de mixar). Como a gente queria pressa em lançar o cd (gurizada boba) e não tínhamos dinheiro para voltar e acompanhar a mixagem, acabamos não fazendo parte dela, o que foi um grande erro.
A maioria dos vocais eu gravei no escuro. A sala de gravação era bem grande, então eu pedi para apagarem a luz. Eu via os guris lá do outro lado do vidro, mas eles não me viam. Foi uma estratégia para ficar mais livre e tranquilo. Claro, que quando gravava vocal a tarde isso não adiantava, mas não foi um problema. Depois o Marcião dizia que eu era mentiroso, pois na música La banda y la orquestra eu dizia que tinha medo de escuro, mas não tinha.
               Chegamos a pensar numa musiquinha engraçadinha com os bordões que criamos durante os dias de estúdio (um deles era do Marcião com voz bem grave e alta dizendo “e aí MEU!”). A música tinha a letra mais ou menos assim: “e aí meu, e aí meu e aí meu!” Na verdade era bem assim mesmo. Seria uma música escondida, mas acabamos não gravando (eu tinha esquecido completamente dessa história, acabei de lembrar, inclusive da melodia).
               Acho que gravei Azules Revés nesse dia também (a voz) pois a letra eu fui terminando no estúdio, não estava completa (lembrando que essa canção começou a ser composta no primeiro dia de ensaio da banda).
               Por fim, a última música a ficar pronta foi mesmo O caminho inverso quando eu e o Charly colocamos quatro vocais cada um na parte final.
               Terminamos esses 5 dias exaustos. No sábado as 4 da manhã acordamos para viajar de volta a Rio Grande, chegamos, ficamos algumas horas na cidade e partimos para Pedro Osório fazer um show (tocando covers). Esse show foi o restinho de dinheiro que precisávamos para pagar os custos da gravação. Antes do show, ainda em Rio Grande, nossos familiares nos perguntavam se havia acontecido alguma coisa errada, pois a gente estava tão cansado que parecíamos tristes. Antes do show a gente só ficava deitado na sala do pessoal que nos contratou. Eles até se assustaram se a gente ia conseguir, de tão cansados. Mas conseguimos. Quando entramos no palco fizemos um bom show, e o Charly ainda teve disposição de chutar uma enorme bola de plástico na cabeça de uma guria na plateia. Mas isso já é uma outra história.

Abaixo link para vídeo da banda tocando Minhas Canções ao vivo na FEARG em 2008.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

15 anos da gravação do Caminho in verso. Dia 4

No dia 25 de setembro de 1997 gravamos alguns vocais, teclados, violões e guitarras.

     Nesse quarto dia gravei os teclados de Pra quem chegar. Gravei com um teclado korg e com o meu roland. Nós tínhamos dois técnicos de som, um ficava durante o dia e o outro a noite. O do dia era bem cri-cri (segundo ele) e o outro mais relax. O dia era guitarrista, por isso as guitarras eram gravadas com ele. 
    
    Como eu havia dito antes, Pra quem chegar era uma das músicas que eu achei que não iríamos conseguir aprontar ou deixar boa pra colocar no cd. Mas aos poucos ela foi se transformando. Quando o Patrício (o técnico do dia) ouviu os violões que o Charly havia gravado a noite achou que a gente tivesse um violão de nylon, por causa do som. Na verdade a única diferença é que nessa o Charly usou os dedos e não palheta. 
      
      Eu gravei o solo dessa música (no final) com o piano do korg (um timbre muito bonito, por sinal) e usei uma escala diferente o que a meu ver enriquecia a música, mas para o técnico não deixava a música tão pop. Na verdade ele não tinha gostado. O Oscar foi o primeiro a defender que ficasse assim e no fim o solo não foi regravado e ficou na música (apesar de que o Patrício, na mixagem, acabou deixando ele meio baixinho)

     Outro ponto crítico nesses últimos dias de gravação eram as vozes. Na quarta feira, dia 24, ficamos gravando as vozes até as duas da manhã (do dia 25, portanto). No outro dia as sete estávamos acordados já para seguir gravando. Os dias em Santa Maria estavam muito quentes. O estúdio tinha ar condicionado (por causa do equipamento) e isso foi estragando nossas vozes. E eu e o Charly estávamos o tempo todo no estúdio, pois tínhamos ficado de ajudar na produção, ouvindo a gravação dos colegas. 
     
     Sei que no final desse dia percebi que Pra quem chegar iria conseguir ir para o cd. Mas começamos a nos preocupar com a música O caminho inverso pois tínhamos que fazer um monte de vozes, e a gente (eu e o Charly) já estávamos quase sem. 
     

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

15 anos de gravação do Caminho in verso. Dia 3

24 de setembro de 1997. Terceiro dia de gravação do albúm O caminho in verso da Azul Revés. Esse dia teve bastante guitarra (manhã e tarde) e a tarde teve violão. No fim da noite foi quando gravei os primeiros teclados.
Segundo dia com gravação de guitarras, lembro do som de uma das guitarras de Não faz sentido nosso reggae metal (tinha até pedal duplo de bumbo nesse reggae) na hora da gravação, o marcinho estava tocando sentado ao lado da mesa de som (usava simulador de valvulado ou algo assim) e na hora se levantou e todos nós estávamos ouvindo (e não por fones) e a altura fez parecer que a distorção nos pressionava contra a parede. O Marcião sempre lembra de que estava deitado a tarde no alojamento (ao lado do estúdio) e acordou com o solo de Blue Nuit e se encantou.
Os violões foram gravados a maioria no início da noite, pelo Charly. A peculiaridade é que ele tocava duas vezes cada música, pois ia um violão para cada canal do estéreo, preenchendo mais a música. Como o Charly tocava violão em umas oito músicas, ele teve que tocar umas 16 vezes pelo menos. Saiu com a mão dormente também.
E no fim da noite gravei os primeiros teclados. Provavelmente Azules Revés e Pra tudo há um fim foram os primeiros, pois foram com o meu teclado. No outro dia toquei com outros, lá de amigos do pessoal do estúdio.
Até esse terceiro dia eu estava com medo de que duas músicas não conseguíssemos terminar ou gravar de uma forma decente: O mensageiro da Ilusão e Pra quem chegar. A primeira música, por causa da batida diferente da batera (pelo dedo inchado do Marcião) e a segunda porque não tínhamos um fim pra ela, o pessoal do estúdio dizia que era grande e além disso o baixo do Oscar tinha dado problema na hora de gravar (empenado). Mas no dia 25, algumas coisas se encaixaram. Mas isso é assunto para amanhã.


Abaixo, La banda y la orquesta ao vivo na FEARG, Rio Grande, julho de 2008
http://www.youtube.com/watch?v=IWihlPo2e6c

Esse vídeo faz parte de material de memória da banda Azul Revés, da cidade do Rio Grande, RS. O Azul Revés existiu de maio de 1997 a setembro de 2001. Esse show foi um reencontro comemorativo em 2008.  A única intenção do vídeo é fazer homenagem aos 15 anos de gravação do primeiro cd (O caminho in verso). Apesar da simplicidade das imagens e edição e das deficiências de áudio (tá misturado o som de câmera com o gravado da mesa), vale a pena pelo registro.

domingo, 23 de setembro de 2012

15 anos da gravação de Caminho in verso. Dia 2

     No segundo dia teve a gravação das baixarias do Oscar Bubble. Matou praticamente todas de primeira, sem precisar repetir, sem errar. Acho que o maior problema foi em uma ou duas músicas, uma delas era Pra quem chegar, só que não foi pela execução e sim problema no baixo. Se descobriu que o baixo do Oscar tava empenado e por isso estava desafinando quando tocava depois da 7ª ou 8ª casa.
     Nesse dia devemos ter começado algumas guitarras, depois da gravação dos baixos, e no final da noite (quando mudava o operador de som) acho que gravamos alguns violões.

     Abaixo, mais um trecho do primeiro ensaio realizado em 2008 para o show da FEARG. Nesse vídeo os primeiros segundos é de música (Blue Nuit) e depois é conversa para tentar fazer o repertório, claro, regado a muita brincadeira entre os músicos.


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

15 anos do primeiro disco da Azul. Dia 1.


Oito horas da  manhã do dia 22 de setembro de 1997. Começamos a arrumar a bateria para a gravação do disco O caminho in Verso. O pessoal do estúdio achava que 14 músicas era muita coisa para se gravar em uma semana. O primeiro dia era reservado para gravar TODAS as baterias. Começamos a gravar só a tarde, se não me engano. Só sei que o Marcião ficava dentro do estúdio e nós do outro lado do aquário, ao lado da mesa de som, tocando junto. Foi a proposta do pessoal do estúdio, mas não foi algo muito esperto, pois a cada erro tínhamos que tocar tudo de novo, todos. O melhor teria sido fazer uma guia de violão e voz, como foi em outras gravações.
De qualquer forma, o Marcião, a cada vez que tocava, saía da sala de gravação e vinha para a da mesa e queria ouvir. O operador da mesa e alguns da banda, diziam para ele ficar e gravar outra, para não perder tempo, mas ele sempre queria ouvir se estava bem.
Foram nove horas tocando! Na última música a ser gravada (O mensageiro da ilusão), o Marcião estava com o dedão (de uma das mãos) inchado. Na verdade a mão estava inchada. Ele não conseguia tocar a música que tinha muitas quebras no ritmo. Ao final, acabou fazendo um ritmo mais reto. Na minha opinião, a música ficou bem melhor com a nova batida (e acho que a maioria gostou também).

Abaixo, o primeiro vídeo dessa semana de homenagem. A música que deu nome (ou quase) ao disco.

Em homenagem aos 15 anos de gravação do disco "O caminho in verso".
Ensaio realizado em maio de 2008. Era para show em julho na FEARG, e que iria preparar show maior (no teatro provavelmente) para uma reunião comemorativa. Infelizmente, o show da Fearg foi o último. Essa foi a última vez que tocamos essa música nessa versão (bem parecida com a do disco), pois no outro ensaio começamos a ensaiar uma versão bem diferente e que foi apresentada no show.
Essa é uma palinha das nossas chatices e barulheira.
Esse foi o primeiro ensaio depois de 5 ou 6 anos. Não lembrávamos mais das músicas. Ainda assim conseguimos tocar a música inteira, entre brincadeiras, mau contato do baixo do Oscar (com o Charly reclamando) entre outras tonterías (como a frase final do Marcião)!

domingo, 16 de setembro de 2012

Desconfio quando se diz que não há nada de cultural para fazer


Quando as pessoas dizem que não há nada pra fazer em um determinado lugar, em determinada cidade, eu sempre fico pensando o que elas queriam que houvesse. Por exemplo, numa das cidades em que morei e onde ouvi muitas vezes essa frase, eu sabia que havia muita coisa a se fazer. Havia um mar a ser contemplado, ouvido, respirado. Um cais. Havia exposições constantes de quadros, fotografias, esculturas. Havia cinema, e espécies de cineclubes. Havia bares, músicos interessantes que poderiam tocar músicas interessantes (nem que fossem seus amigos, na casa de alguém). Aliás, uma cidade não muito grande onde os amigos poderiam estar por perto. Não fosse tudo-aquilo-que-todo-mundo-tem-que-fazer-sempre-e-que-nunca-deixa-tempo-para-nada.
Sim, sempre temos um monte de deveres a fazer e nunca nos sobra tempo pra diversão, para cultura, algo interessante. Mas as pessoas conseguem fazer coisas interessantes?
Minha teoria é simples. As pessoas dizem que não há nada para fazer, não porque realmente não haja nada para fazer, mas simplesmente por elas não saberem fazer.
               Do que adianta haver exposição de pinturas, se não estamos mais acostumados a perceber a diferença de traços entre artistas? Não sabemos distinguir uma técnica da outra, ou sentir as nuanças de luz de uma tela a outra.
               Qual efeito tem um bar que traz bandas com repertório próprio e inédito, se quando vamos ao bar apenas queremos encher a cara e “azarar” as gurias ou guris? Não sabemos ouvir as músicas, os instrumentos, nem prestamos atenção nas letras. Aliás, sabemos identificar rimas, encontrar ironias, figuras de linguagem ou mesmo referências?
               O prazer está sempre associado a algo “comprável”. A nova tevê onde eu posso movimentar a mão e mudar de canal sem precisar de controle remoto, o novo celular onde eu posso olhar o face ou postar algo no twitter. Tudo isso nos dá prazer. Mas não encontramos prazer em olhar o mar. Olhar a rebentação das ondas, ouvir o marulho, sentir o cheiro da água salgada, sentir na pele a água fria.
               Não estamos dispostos a ficar sentado embaixo de uma árvore ouvindo o farfalhar, percebendo a sombra da folha que vem e vai da frente do nosso olho. Não temos prazer em apenas conversar com um amigo, sobre sonhos, sobre vontades, sobre seus feitos, ouvir como foi seu primeiro dia de aula, quando sentiu medo de verdade, como se deteve na frente do espelho em algum momento da vida em que sentiu orgulho de si mesmo. Hoje só falamos sobre o time de futebol, um pouco de política, dinheiro e claro, pessoas do sexo oposto.
               As músicas não dizem mais nada, não provocam, não deixam enigmas, não nos fazem pensar. Apenas falam de baladas, de danças, de bundas, de camas.
               Quem encontra prazer em ler um livro, uma crônica, algumas notícias de jornal, ou mesmo lê com mais atenção a mensagem de um amigo? Em algum momento estávamos acostumados a ler cartas, e se fossem grandes, melhor ainda. Hoje, os e-mails devem ser curtos, pois ninguém mais tem tempo de lê-los.
               Não estou falando de nostalgia. Não estou falando de como o tempo mudou as coisas, como a vida ficou mais corrida. Estou falando de superficialidade. Estou falando de falta de capacidade de interpretação. Estou falando do gozo delimitado por consumo e sexo.
               Também não estou sendo romântico. Sentar embaixo da árvore daria o mesmo efeito do que sentar embaixo de uma marquise e olhar o descascado do reboco da casa ao lado. não importa muito, na verdade, o que está fora de mim, e sim, como eu leio o que está fora de mim, como isso me constrói, me modifica, me ensina.
               E muito menos estou sendo acadêmico. Quando digo que não sabemos ler uma pintura, por exemplo, não quero dizer que precisamos ter estudado sobre isso. Acredito que na simples observação, cuidadosa e através do tempo, vamos percebendo as coisas. Já vi em muitos documentários e em conversas onde pessoas muito simples e sem estudo davam opinião, analogias e metáforas superiores a grandes poetas eruditos, e definições sobre as relações humanas e em sociedade que não li em grandes teóricos.
               Não é preciso ter uma casa de frente ao mar. Não estou falando em buscar o sonho vendido em filmes norte-americanos ou com os pobres que saem do nada e ficam famosos, geralmente pelo futebol, música ou BBB aqui no Brasil (e que, nas entrevistas para o Faustão sempre nos dizem: não desistam de seus sonhos...).
               Na nossa sociedade de consumo, aquilo que não tem preço significa não ter valor. Ou terá valor se for relacionada com o cartão de crédito que compra todas as outras coisas.
               Mas ainda há aqueles que sabem que há muito a se fazer, em qualquer lugar. Mesmo numa cidade “sem nada a se fazer”, sempre há uma rua, uma árvore, um amigo que compõem, escreve, pinta, ou que ainda tem uma vida rica de acontecimentos para contar e compartilhar.